Os Agentes do Destino

Baseado livremente – e bota livremente nisso – num conto de Philip K. Dick (cuja obra já originou filme como Blade Runner, O Vingador do Futuro, Inteligência Artificial e Minority Report), Agentes do Destino marca a estréia de George Nolfi, roteirista de Ultimato Bourne, na direção de um longa-metragem.

Tendo como base um dos maiores escritores de ficção-científica do século passado e considerando a experiência do diretor em criar tramas tão intrincadas como as do espião Jason Bourne, é de se espantar que Agentes do Destino falhe justamente no desenvolvimento de sua história.

Matt Damon, sempre esforçado, é David Norris, candidato ao Senado dos Estados Unidos que conhece, num banheiro masculino, no dia de sua derrota, a bailarina Elise, interpretada com graça pela sempre adorável Emily Blunt, pela qual se apaixona à primeira vista, só a reencontrando, por acaso, 11 meses depois em um entre os milhares de ônibus de Nova York.

É aí que entram em ação dos chamados agentes do destino, colocados pelo roteiro como anjos, vestidos de terno e chapéu, que devem ajustar o caminho das pessoas para que estes alcancem o que lhes foi designado pelo grande gerente (ou Deus, como quiserem). Segundo esses agentes (ou anjos, como quiserem), Norris e Elise jamais devem ficar juntos, já que o futuro senador teria um importante papel na história americana, o que não seria alcançado ao lado da bailarina.

A partir dessa premissa, o filme poderia levantar algumas questões sobre o livre arbítrio do ser humano em relação ao que, pretensamente, o destino guarda para cada um. Infelizmente, essa questão é debatida de forma superficial, sendo logo substituída, no terço final, pelou usual corre-corre de tantos outros filmes.

Fica ainda mais difícil acreditar que nosso destino está nas mãos de uma equipe de agentes tão incapazes quanto a mostrada no filme. Em certos momentos, chega a ser risível as tentativas pífias dos agentes (dos céus, como quiserem) em impedir que o casal continue se encontrando em Nova York. Mesmo a entrada do sempre ameaçador Terence Stamp não dá mais credibilidade aos agentes.

O roteiro apressa-se em explicar essas dificuldades como forças acima da compreensão dos mesmos, mas nada justifica a contratação de empregados tão incompetentes. Em termos de equipes de estranhos de terno e chapéu, os Observadores de Fringe são bem mais eficientes.

Para piorar, a direção de arte sem inspiração cai no mais manjado clichê do além, estabelecendo o local de trabalho dos agentes em uma repartição pública burocrática, com salas imensas transformadas em escritórios ou bibliotecas. Munidos de uma espécie de tablet místico, muito semelhante ao mapa do maroto dos filmes de Harry Potter, os agentes se deslocam pela cidade por meio de um intrincado sistema de portas (a melhor sacada do filme) que os levam para os mais diversos locais. Como naquele filme da Pixar, Monstros S.A.

Se há algo a destacar no filme é a excelente química entre Damon e Blunt, que tornam totalmente crível a paixão que se desenvolve entre os dois nos poucos momentos em que se viram. Para uma obra tratada como filme de ação, é curioso que o lado romântico seja o único que realmente funciona sem problemas. Mesmo com a conclusão piegas estilo “o amor é mais forte que tudo”.

Nota: 3/5

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