mãe!

Como experiência sensorial, mãe! é um filme admirável e corajoso em sua proposta. Tenso, nervoso, perturbador ao nível gráfico e inquietante como poucos, a nova obra de Darren Aronofsky é um filme cujas imagens e cujos sentimentos que estas evocam irão demorar a sair de seu pensamento. 

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A trama básica traz Jennifer Lawrence como a esposa de um escritor interpretado por Javier Barden que precisa lidar com a presença de algumas pessoas estranhas em seu novo lar [Ed Harris e Michelle Pfeiffer, absolutamente intrigantes].

Aos poucos, o caos vai se instalando de forma inexorável, atingindo níveis de loucura e violência inesperados. Aronofsky estabelece desde o início um tom de fábula [ou parábola] com toques de horror e suspense, mantendo sua câmera sempre próxima de Lawrence em uma filmagem francamente claustrofóbica, sentimento esse exacerbado pela postura irritantemente resignada de sua personagem – exceto quando alguém senta em sua pia, claro. 

A sensação de impotência que cresce ao longo da projeção é incômoda, principalmente por conta da postura condescendente do personagem de Barden, um artista e criador incapaz de renunciar à apreciação e posterior adoração de seus fãs e seguidores. Quando tudo explode de forma espetacular e espetaculosa, resta ao espectador apenas recolher os cacos dos corações despedaçados de um amor incondicional e trágico.

Mais do que uma experiência sensorial, porém Aronosfsky faz em mãe! um filme de múltiplos significados, sejam eles bíblicos, ecológicos, sociais ou criativos. Não há um momento do filme que não seja uma metáfora jogada sem muita finura no rosto do espectador. Talvez resida aí tanto a força como a fraqueza do filme. 

Ao permitir diversas análises em sua narrativa, o filme cresce justamente por ser uma obra aberta a interpretações – algo muito bom em tempos que tudo precisa ser explicado para o espectador. Por outro lado, Aronosfsky joga toda e qualquer sutileza de lado em seu terceiro ato, trabalhando muito mais com o choque do que com a capacidade de entendimento do espectador. 

Ao explicitar o que estava já bastante claro nos últimos 90 minutos, Aronofsky infelizmente reduz o impacto de seu filme. Em termos comparativos, é como se David Lynch resolvesse explicar Cidade dos Sonhos e não deixar o espectador criar sua própria história e sua própria identidade para o filme. Muitas vezes, é até melhor sair sem entender nada do que aconteceu do que ter a explicação jogada dessa forma.

De qualquer maneira, mãe! ainda se mantém como uma obra poderosa de um cineasta que não tem medo de ir fundo em suas ideias e seus sentimentos, criando um universo de pesadelo, loucura e angústia como poucas vezes visto e deixando o espectador embasbacado com a força de suas imagens.

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